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Valorpneu

“Next Lap” procura soluções em larga escala provenientes da reciclagem de pneus

O NextLap é um “programa internacional de inovação” no domínio dos “produtos derivados da reciclagem de pneus”, promovido pela Valorpneu e pela multinacional Genan, maior recicladora mundial de reciclagem de pneus, e conta com o apoio técnico e a gestão, suportada numa metodologia colaborativa, da consultora Beta-i, especializada em inovação.

Climénia Silva, diretora-geral da Valorpneu, refere que o projeto “procura soluções em larga escala provenientes da reciclagem de pneus”, prontas para o mercado e coloca “face a face” inovadores, a indústria que se constitui como parceiros de piloto dos projetos e experts. De acordo com a responsável, os inovadores podem ser “pessoas individuais”, “centros de investigação de universidades”, “empresas” e “startups portuguesas e internacionais”. Já os “parceiros de indústria” poderão ser todos aqueles que se queiram desafiar a “utilizar materiais reciclados de pneus nos seus produtos” ou apenas que “queiram colocar à disposição do projeto as suas tecnologias”, refere.

 

Importa diversificar e ampliar os mercados alternativos

No que diz respeito à matéria ambiental, Climénia Silva lembra que, anualmente, existem “mais de 30 milhões de toneladas de pneus em fim de vida no mundo que são descartados”, sendo que na Europa são “gerados cerca de 3,4 milhões de toneladas todos os anos”. Os produtos reciclados de pneus estão “fortemente dependentes” do mercado dos “relvados sintéticos” e dos “pavimentos”, pelo que “importa diversificar e ampliar os mercados alternativos”. Além disso, os pneus em fim de vida têm potencial para “substituir matérias-primas e recursos naturais em inúmeras soluções”, preservando o “ambiente”, na medida em que “voltam a ser reintroduzidos na economia e a gerar valor”, assegura. Olhando para números, Climénia Silva vai mais longe: “Por cada tonelada de pneu recolhido em Portugal e valorizado são evitadas 1,5 toneladas de emissões de gases com efeito estufa, o equivalente às emissões produzidas por um veículo de passageiros a percorrer 6.300 Km”. 

As inscrições no programa tiveram início a 21 de setembro e terminaram a 21 de novembro: “Foram cerca de 50 inovadores os inscritos que terão oportunidade de exporem as suas ideias aos parceiros e parceiros piloto do programa”. As empresas Decathlon, Extruplás, Procalçado, Opway, Mobinov, Pragosa, IP – Infraestruturas de Portugal e Houdini Sportswear juntaram-se ao projeto e “estão motivadas” para “testar e desenvolver aplicações” provenientes da “borracha, têxtil ou aço dos pneus, ou mesmo dos pneus como um todo”, adianta a responsável.

O programa irá decorrer até final de abril de 2021 e em fevereiro haverá a oportunidade de acompanhar as evoluções ocorridas relativamente aos projetos selecionados e de realizar em conjunto o ajustamento necessário aos projetos piloto. 

Desta forma, o balanço não podia ser mais positivo: “Temos grande expectativa em encontrar novas soluções para implementação, ou modelos inovadores que possam ser desenvolvidos para aplicação em processos existentes”, bem como “novas formas de reaproveitamento dos materiais derivados do pneu” e, assim, “continuar a diversificar as aplicações e soluções para os pneus em fim de vida”, de forma a “estarmos na linha da frente” de um “futuro mais sustentável e responsável.

 

Não basta falar em economia circular e em sustentabilidade para que isso só por si se torne uma realidade

Quanto a Portugal, Climénia Silva destaca que tem sido dado “passos importantes” no caminho para uma economia circular: “Os pneus em fim de vida têm um enquadramento legislativo já desde 2001 que estabelece a responsabilidade alargada do produtor”. Além disso, “existe um sistema integrado” gerido pela Valorpneu que “procede à recolha, transporte e encaminhamento” (dos pneus em fim de vida) para “destino final de valorização”, sendo que “mais de 50% dos pneus são reciclados e incorporados em novos produtos”, refere. Desta forma, a Valorpneu e Portugal têm sido uma “referência” neste domínio. É exemplo disso o mais recente, “Fim de Estatuto de Resíduo”, estabelecido na “Diretiva Europeia” relativa ao “Regime Geral de Gestão de Resíduos” e que “poucos países o fizeram”. Trata-se de um “mecanismo que permite que certos materiais, em circunstâncias específicas, possam ser utilizados como produtos, sem que os trâmites administrativos associados à gestão de resíduos lhes sejam aplicáveis”, explica. 

Questionada sobre aquilo que ainda falta ao país no que diz respeito a estas matérias, a responsável destaca a “falta de concretização”, pelo que “não basta falar em economia circular e em sustentabilidade para que isso só por si se torne uma realidade”. É assim necessário uma “mudança de atitude” e os “líderes políticos” têm um papel determinante nessa matéria: “É necessário consciencializar, desenvolver enquadramento legal e criar políticas de financiamento, aposta na inovação, reestruturar setores de atividade e incentivar o desenvolvimento da reciclagem e o consumo de materiais reciclados, através de uma discriminação positiva destes produtos e de novos modelos de negócio”.

Relativamente ao contexto atual marcado pela pandemia, Climénia Silva é perentória: “Nada poderá ficar como antes da Covid-19”. E os tempos em que o mundo vive fizeram “despertar” a consciência do quanto “somos vulneráveis”, atenta. Em relação ao ambiente, se nada for feito será a própria humanidade a ficar em risco: “Estamos mais bem preparados para um recomeço mais sustentável, passando o modelo de economia circular a ser não só uma necessidade, mas uma obrigação”.

Qual é o cenário dos resíduos para os próximos 10 anos?  

Dentro de uma década deixaremos de falar em resíduos e falaremos em recursos, recursos esses que terão uma função primordial e que farão face às necessidades crescentes da população mundial.

 

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