Todo os anos, um milhão de toneladas de comida vão para o lixo em Portugal.
Também em Portugal os super e hipermercados desenham estratégias para reduzir o desperdício.
O pão faz-se cerveja, legumes feios dão sopa, limões viram gelado e o peixe ração para animais. E há rótulos laranja ou rosa para produtos em fim de prazo com preços mais em conta. São algumas estratégias dos super e hipermercados para combater o desperdício alimentar – além de muitas doações. Em Portugal, calcula-se que vá para o lixo um milhão de toneladas de alimentos por ano – cerca de 17% dos alimentos produzidos para consumo humano. É muita fruta, verduras e pão desperdiçados. Tanto que até 2030, ditam as recomendações das Nações Unidas, a ideia é cortar a metade o desperdício em toda a cadeia de valor. Retalho incluído.
No Continente, o programa Transformar.te está a converter em doces e chutney “frutas e legumes que perderam o seu valor comercial, mas mantêm as condições de consumo perfeitas”.
Em 2018, lançou o Panana, que tem nos seus ingrediente bananas muito maduras, e conseguiu escoar, “no primeiro ano de vendas, 40 mil unidades, o que corresponde a mais de 80 mil bananas reaproveitadas”, adianta Pedro Lago, diretor de projetos de sustentabilidade e economia circular da Sonae MC.
Recentemente, a cadeia virou ainda a atenção para o excedente de pão e, em parceria com a cervejaria artesanal Vadia, criou a Bread Beer, disponível nas lojas do Colombo e de Matosinhos. “É a única na distribuição moderna feita com sobras de pão recolhidas nas lojas.” Cerca de 70 kg de pão são necessários para fazer mil litros de cerveja.
Também a Auchan arranjou forma de o aproveitar: começou neste verão a vender pão do dia anterior para uso culinário e a ralar pão com dois dias, produtos para vender por menos 50% do que o preço do pão do dia. “Estamos ainda a trabalhar em projetos especiais, que permitem produzir para necessidades do dia”, diz Rita Cruz, gestora de sustentabilidade e ambiente da Auchan. É o caso do Jungle Box (na imagem). Mesmo ao lado da loja de Sintra, a Auchan tem uma espécie de miniquinta, onde são germinados, cultivados e embalados produtos frescos como plantas para saladas e ervas aromáticas. “Há uma produção eficiente e contínua de 365 dias sem desperdício ou contaminantes que poluam solos ou águas. Ao eliminar o transporte, o produto chega intacto à loja, evitando o desperdício.” A cadeia francesa também disponibiliza, através da opção self-discount, “a um preço mais conveniente”, frutas e legumes com defeitos naturais que, por isso, são desperdiçadas para consumo; e faz descontos nos produtos com aproximação da data de validade.
Vender com desconto
Caixas com rótulos laranja ou rosa e preço mais baixo para escoar produtos cujo prazo de validade se aproxima é uma estratégia presente em várias cadeias e chegou agora ao Pingo Doce.
A cadeia colocou ainda as cozinhas ao serviço da redução do desperdício alimentar.
“Os vegetais feios são incorporados nas sopas que confecionamos ou transformados em produtos de quarta gama, ou seja, soluções alimentares de conveniência de vegetais cortados ou lavados prontos a usar”, diz. “Em três anos, aproveitámos 10 780,18 toneladas de legumes do setor primário.”
A economia circular é também uma preocupação da Mercadona, que, desde julho, tem supermercados no país. “Em Portugal estamos a trabalhar junto dos fornecedores para encontrar e implementar sinergias”, diz Plácido Albuquerque, responsável pela área do ambiente. Exemplos? “A embalagem de brócolos para preparar diretamente no micro-ondas contém pedaços aproveitados da manipulação de brócolos completos” e “os limões que, pelo seu tamanho, não se vendem a granel mas cujo fruto – em perfeitas condições de consumo – é usado em gelados”.
No Lidl as sobras de pão e alguma pastelaria, bem como o peixe são convertidos em ração. Só no ano passado, a cadeia vendeu 3700 toneladas desses produtos à indústria. “Os subprodutos transformados em farinha têm diferentes destinos, entre eles rações para animais para produções agrícolas e pet food. Não se trata de uma produção de marca própria”, diz fonte oficial. Também a venda a granel ou a unidose de produtos de pastelaria, padaria, fruta, legumes, mas igualmente peixe ou marisco é habitual nas lojas, para adequar a oferta às necessidades de consumo. O mesmo faz o grupo Intermarché que, segundo o administrador Martinho Lopes, tem vindo a adaptar as “embalagens à tendência social dos países europeus: agregados familiares mais reduzidos”.
Logística e gestão de stocks
O combate ao desperdício também passa pela logística e gestão dos stocks em loja. É por isso que a Mercadona, por exemplo, promove o “transporte de alguns frutos diretamente do campo para o supermercado, evitando a manipulação intermédia e prolongando a vida útil dos produtos”, adianta Plácido Albuquerque. A cadeia tem ainda implementadas ferramentas de gestão que permitem “passar de um modelo de pedido automático em lojas por previsão para um de pedido por reposição ajustado às necessidades de cada loja, reduzindo os excedentes”.
O planeamento exato dos artigos em lojas é uma das estratégias usadas pelo Aldi. Nas cerca de 70 lojas, adotou o método de first in-first out. “E integramos outros processos na logística, como caixas reutilizáveis para as frutas e os legumes”, com as quais se tem minimizado “as quebras e a danificação dos bens durante o transporte”.
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